Renata Meins - Com Renata Meins

Doença do silicone

Doença do silicone
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Nosso papo de hoje é talvez um dos mais polêmicos, mas mais importantes que trago para o público. Venho expor essa situação bastante delicada, pessoal, e faço isso com plena consciência da seriedade do tema, e eu não traria aqui... Continue lendo.

Nosso papo de hoje é talvez um dos mais polêmicos, mas mais importantes que trago para o público. Venho expor essa situação bastante delicada, pessoal, e faço isso com plena consciência da seriedade do tema, e eu não traria aqui o assunto se eu não acreditasse na relevância que ele pode ter para tantas e tantas mulheres.

Quero começar agradecendo tantas outras bravas mulheres, que assim como eu, e antes de mim, tiveram a coragem de expor sua situação, trazendo seu depoimento, e me ajudaram e descobrir o que estava acontecendo comigo, como a Ariella Amaral, que com seus vídeos expôs toda sua pesquisa diante do que ocorreu com ela.

Sim, vamos hoje sobre o explante das minhas próteses de silicone, sobre as razões pelas quais optei por essa medida, e tudo o que descobri a esse respeito.

Primeiro, a intenção aqui não é criar pânico. Se você não possui nenhum sintoma, você deve fazer um acompanhamento de perto e se notar qualquer alteração em sua saúde, deve procurar um profissional. Mas quero trazer conhecimento, conteúdo importante para que você tenha a consciência que eu queria ter tido aos 18 anos, quando coloquei minhas próteses.

Falando um pouco sobre a história dos implantes de silicone, foi em 1962 que o primeiro implante foi colocado nos Estados Unidos. Já em 1975, começaram os primeiros relatos de complicação. Em 1976, a FDA (Food and Drugs Administration), que é o órgão regulador da saúde nos EUA, começou a regulamentar os implantes naquele país. Em 1982, a FDA enquadrou os implantes como “Dispositivos médicos de grau três” e então, o implante de silicone passou a ser considerado dispositivo de alto risco.

Em 1991 foram criados os implantes chamados PIP, que usavam silicone de baixo calibre e que criaram o maior transtorno na história do silicone. Em 1992, a Dow Corning, que era o maior fabricante de implantes na época, tinha recebido inúmeras ações judiciais que giravam em torno de várias doenças graves que teriam sido causadas por suas próteses, como câncer de mama e doenças autoimunes.  Por isso, a FDA resolveu banir o uso de implantes de silicone até segunda ordem, e só eram liberados para casos de reconstrução.

Em 1999, foi feito um relatório que revisou a literatura anterior, dizendo que o silicone era inerte, seguro para o organismo, e em 2000, a França permite os implantes de silicone novamente. Em 2006, a FDA retirou todas as restrições, com a condição de que os fabricantes iriam conduzir estudos por 10 anos.

Em 2015, foi descrito o primeiro caso de câncer de linfoma BIA-ALCL (Breast Implant-Associated Anaplastic Large Cell Lymphoma), em português LÂMINA LINFOMA ANAPLÁSICO DE GRANDES CÉLULAS (ALCL) ASSOCIADO AO IMPLANTE MAMÁRIO (BIA). que não é um câncer de mama e sim um câncer do sistema linfático, que se dá pela desregulação na mitose dos linfócitos, que são aquelas células de defesa do nosso organismo.

Em 2019, a maioria dos casos desse tipo de câncer foram ligados às próteses texturizadas da Allergan. A FDA obrigou a empresa a fazer recall mundial. A ANSM na França é a primeira a banir próteses macrotexturizadas e de poliuretano, assim como outros 38 países.

Explicando um pouco sobre as próteses, elas têm um invólucro, uma concha de borracha que pode ser macrotexturizada, microtexturizada, ou lisa. Dentro, há o gel de silicone. Todos os implantes de silicone são semipermeáveis, não existe prótese impermeável, o que significa que pode haver uma troca com o meio em que ela se encontra. Da mesma forma que coisas o seu organismo podem entrar na prótese, coisas da prótese, ou seja, silicone, podem sair. É o famoso “gel bleed”, ou sangramento de gel.

A partir do momento que são implantadas em nosso organismo, as próteses começam a se degradar, o que vai ocorrer de forma e velocidade diferente de organismo para organismo.

O organismo, como uma resposta de defesa, vai criar uma cápsula contra silicone, a chamada cápsula fibrosa, que vai envolver as duas próteses separadamente. O extravasamento de gel ativa células de defesa, chamadas macrófagos, que tentam fagocitar o silicone (“comer” o silicone). Os macrófagos ativam os linfócitos, outras células de defesa do organismo, que geram uma resposta inflamatória , como uma contratura. Quando o linfócito desiste, porque não consegue se livrar do silicone, vai se formar uma cicatriz, também conhecida como célula gigante ou granuloma.

O gel pode extravasar a cápsula e se espalhar no organismo, e por ter uma característica hidrofóbica e lipofílica, ou seja, tema a capacidade de ultrapassar pelas estruturas e se depositar na gordura, vai acabar em vários órgãos, como olhos, pele, cérebro, sistema osteoarticular, sistema digestivo. Enfim, pode se espalhar por todo o corpo.

E em cada local que ele se depositar, pode repetir a mesma reação dos macrófagos,  estimulando os linfócitos, e vai acontecer a resposta de defesa em cada local onde o silicone se depositar.

O silicone de baixo peso molecular é tóxico para o nosso organismo. O stress crônico de combater um corpo estranho, o vazamento do gel, a toxicidade do silicone, a exposição a metais pesados, como a platina, por exemplo (que a platina era usada com catalisador para criar o silicone, que é um polímero sintético, o silicone PDMS), tudo isso gera uma disfunção imunológica no nosso organismo, trazendo, muitas vezes, sintomas autoimunes, e como o corpo está com o sistema imunológico enfraquecido, fica vulnerável a tudo, causando uma série de doenças e problemas, com sintomas que aparentemente são isolados e desconexos, que muitas vezes ninguém nem pensaria em relacionar com o silicone.

Os 10 principais sintomas, mais reportados por pacientes a FDA nos EUA, são:

- Cansaço 49%

- Nevoeiro cerebral 25%

- Dores nas juntas 25%

- Ansiedade 24%

- Queda de cabelo 21%

- Depressão 19%

- Irritação na pele 18%

- Doenças autoimunes 18%

- Inflamação 18%

- Problemas de peso 18%

A lista total inclui pelo menos 50 sintomas diferentes: 

- Fadiga ou Fadiga Crônica

- Disfunção cognitiva (névoa do cérebro, dificuldade de concentração, recuperação de palavras, perda de memória)

- Doenças musculares, dor e fraqueza

- Dor e dor nas articulações

- Perda de cabelo

- Pele seca, olhos, boca, cabelo

- Ganho ou perda de peso

- Hematomas fáceis e cicatrização lenta de feridas

- Intolerância à temperatura

- Libido baixa

- Zumbido nos ouvidos

- Palpitações cardíacas

- Falta de ar

- Gosto metálico na boca

- Tordo (língua branca)

- Suor noturno

- Erupções cutâneas

- Insônia

- Desequilíbrio de estrogênio, progesterona, diminuição dos hormônios ou menopausa precoce)

- Gânglios linfáticos inchados e sensíveis na área das mamas e axilas, garganta, pescoço ou virilha

- Formigamento ou dormência nos braços e pernas

- Dor ardente ao redor da parede torácica ou seios

- Mãos e pés frios e descoloridos

- Odor de corpo sujo

- Espasmos musculares

- Vertigens

- Febres

- Desidratação

- Micção frequente

- Dor crônica no pescoço e nas costas

- Fotossensibilidade

- Mudanças nas unhas (rachaduras, crescimento lento etc.)

- Sardas de pele, alterações de pigmentação ou aumento das pápulas

- Edema ao redor dos olhos

- Envelhecimento prematuro

- Declínio da visão ou distúrbios da visão

- Recuperação muscular lenta nas atividades

- Disfunção hepática e renal

- Problemas gastrointestinais e digestivos

- Intolerâncias alimentares repentinas e alergias

- Sensibilidade olfativas ou químicas

- Infecções novas ou persistentes – virais, bacterianas e fúngicas (cândida)

- Infecções recorrentes de sinusite, levedura e ITU

- Pigarro, tosse, dificuldade de engolir, sensação de asfixia

- Inflamação crônica

- Sentindo como se estivesse morrendo

- Dor de cabeça, tonturas, enxaquecas

- Mudanças de humor, instabilidade emocional

- Ansiedade, ataques de pânico

- Pensamentos suicidas

- Depressão

- Sintomas hipo e hipertiroidismo

 - Sintomas hipo ou hiper adrenais

- Sintomas ou diagnóstico de fibromialgia

-  Sintomas ou diagnóstico de Lyme

- Sintomas ou diagnóstico de EBV ou outra reativação viral

- Sintomas ou diagnóstico de disautonomia

- Sintomas ou diagnóstico de distúrbio de ativação de mastócitos (MCAS)

- Sintomas ou diagnóstico autoimunes comuns: artrite reumatóide, lúpus, síndrome

de Sjorgen, síndrome de Raynaud, doenças de Graves, tireoidite de Hashimoto e

esclerodermia, esclerose múltipla,  colite ulcerativa e doença de Crohn.

Os sintomas podem se manifestar em cada organismo de forma diferente, em tempos diferentes, mas já se sabe que quanto mais tempo com as próteses, mais riscos de desenvolver complicações, e que pessoas com histórico de doenças autoimunes, históricos alérgicos, podem ter uma resposta mais “drástica” às próteses puramente por predisposição genética. Porém, todos podem ser afetados de alguma forma pela doença de silicone.

O diagnóstico da doença é clínico, o médico precisa analisar todas as possibilidades para depois concluir que os sintomas que a paciente apresenta realmente podem estar ligados ao silicone. Há exames laboratoriais usados como marcadores para diagnóstico de inflamação no organismo.

Em 2017, o médico brasileiro Doutor Eduardo Faria de Castro Fleury descobriu como detectar o vazamento do gel de silicone através de exames de imagem, mais especificamente através da ressonância magnética (SIGBIC – GRANULONA INDUZIDO POR SILICONE NA CÁPSULA FIBROSA)

Em 2011, o Dr. Shoenfeld descreveu a síndrome ASIA (síndrome autoimune auto inflamatória induzida por adjuvante), um diagnóstico médico reconhecido, que é uma resposta autoimune do nosso organismo a adjuvantes como o silicone, vacinas etc. Acontece quando a prótese em si causa um gatilho, ativando o sistema autoimune de pacientes que têm uma predisposição genética e desenvolvem sinais e sintomas relacionados à doença autoimune.

É importante diferenciar da doença do Silicone, que é a doença causada pelas  partículas de silicone, que vão extravasar pelo invólucro da prótese, independente dessa prótese estar íntegra, e essas partículas, onde elas se depositarem, vão causar toxicidade, gerando sinais e sintomas.

A química de ambas as doenças é semelhante, mas a Síndrome Ásia é apenas uma parte da doença do silicone, é a parte reconhecida da doença. O problema é que se a paciente desenvolve uma doença autoimune, por conta do silicone, ela tem sua doença reconhecida (porque é chamada de Síndrome Ásia), mas se a paciente desenvolve todos aqueles outros sintomas listados, e não uma doença autoimune, ela não tem sua doença reconhecida.

Em Setembro de 2020, a FDA, nos EUA reconheceu que, apesar de não possuir evidências definitivas, que as próteses causam todos esses sintomas, e havia evidências suficientes para demonstrar que a retirada delas melhora ou resolve os sintomas das pacientes, e em Outubro de 2021, estabeleceu:

- os implantes de silicone passam a ser considerados tarja preta;

- eles não são para ver inteira;

- eles aumentam risco de complicações com o tempo;

-  há risco de desenvolver o câncer de linfoma;

- associação com sintomas sistêmicos (doença do silicone);

- o paciente deve receber um cartão com o número de série do implante e as informações de tarja preta, assim como os materiais, composição do implante (materiais químicos/metais pesados);

- lista de condições de saúde que não são recomendadas para colocar um implante;

- pacientes assintomáticos devem fazer ressonância magnética depois de 5 a 6 anos de cirurgia e a cada 2 ou 3 anos após isso;

- Recomenda-se exames periódicos de imagem (ultrassom ou ressonância) para verificar ruptura da prótese;

- paciente deve assinar o formulário de riscos, efeitos colaterais, limitações e que pode desenvolver doenças autoimunes e depressão;

- o paciente deve ter a ciência dos riscos:

1.Perda de sensibilidade 35%

2. Ruptura ou extravasamento 31%

3. Chance movimentação das próteses 11%

4. Dor e contratura 51%

5. Risco de Reoperação 59%

Uma investigação feita na Holanda com 389 mulheres com implantes de silicone coeso e não coeso, mostrou que 98,8% tinham silicone nos tecidos, indicando vazamento de silicone. 12% tinham silicone dentro da cápsula, e todo o resto dessas mulheres tinha silicone por todo o corpo.

Como já falei, vou fazer o explante das minhas próteses. Existe o explante simples, em que se abre a cicatriz e se retira somente o implante, e a Capsulectomia, em que se tira o implante e a cápsula fibrosa, não necessariamente juntos, e existe Capsulectomia em Bloco, em que implantes e cápsula são retirados juntos, em bloco, sem ruptura.

O mais aconselhado no caso de você apresentar sintomas da doença do silicone é a retirada da cápsula em bloco, porque a retirada em bloco evita que algo possa extravasar mais no organismo. Nem sempre é possível fazer o explante em bloco, mas é imprescindível que se retire toda a cápsula de dentro do organismo para se resolver a maior parte dos sintomas e finalizar a resposta inflamatória do corpo.

Mais uma vez quero reforçar, minha intenção aqui não é alarmar, mas sim alertar! Assim como tive a bênção de ser alertada, quero usar minhas plataformas para criar consciência e conhecimento a esse respeito, com muito carinho e responsabilidade. Informação é poder.

Beijos, e te encontro no próximo post!

Renata.

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